Cultura G-ZVF6EVB510

RACISMO – MULHERES NEGRAS NO MERCADO DE TRABALHO

RACISMO – MULHERES NEGRAS NO MERCADO DE TRABALHO
Feminismo

29/10/2025

Resumo

 

      O papel da mulher negra no mercado de trabalho tem se ajustado à própria história da Mulher, independente da etnia, na luta pelos seus direitos, em exibição de capacidades, produção e ganho salarial. Porém, com largo atraso a mulher negra luta primeiramente para sair da invisibilidade e para desaparecer com os estigmas de mulher sexualmente poderosa, mulher somente apita para trabalhos manuais e domésticos e lamentavelmente, se tornou ferramenta de trabalho de mulheres brancas ao cozinhar, cuidar dos filhos e faxinar por elas. Desde a revolução industrial à revolução feminista, o papel da mulher negra vem se destacando em ativismos para provar seu valor como intelectual, provedora do lar e sobretudo, uma pessoa com identidade pessoal e social. Nesta resenha trataremos do racismo e mulheres negras no mercado de trabalho em três partes fundamentais para futuros debates, sendo na primeira parte, um breve histórico sobre a luta de mulheres negras em sociedade, a segunda parte mostrará o papel da mulher negra no mercado de trabalho e suas conquistas, na luta contra o racismo e contra o preconceito estrutural, na terceira parte, iremos  analisar índices atuais na sua trajetória e  posicionamento social, cargos, salários e outras conquistas ao vislumbrar um futuro sem desigualdades.

Palavras-chave: Mulheres Negras. Trabalho. Preconceito. Racismo. Desigualdade

 

Introdução

    Trabalhar para sobreviver, esta é a máxima condição do homem e sua existência. Desde os primórdios da era homo sapiens, o desenvolvimento humano caracterizou-se pela estrutura e convenções culturais baseados no modo de produção. Sobretudo seguindo os valores culturais e comportamentais impostos pela Igreja católica[1], no qual, caberia ao homem a tarefa de prover o alimento e o sustento da família pelo trabalho e à mulher, o papel de “dona de casa”, a organizadora do lar, quem cria e educa os filhos, aquela cujo importância foi somente a de procriar. Valorizar sua inteligência e capacidades produtivas, em colaboração ao mercado de trabalho, sempre esteve fora de questão quando o assunto se refere ao feminino.

    Com a velocidade e evolução dentro dos processos de internacionalização do trabalho, muitos programas de empregabilidade desenvolveram estruturas que pudessem dar à mulher pequenas oportunidades para gerar rendas em casa. Por volta de 1990 havia 854 milhões de mulheres ganhando salários fora de casa[2]. Essa entrada maciça de mulheres com trabalho remunerado deve-se sobretudo à educação que “virou a chave” e passou a oferecer conhecimentos científicos, de fato, ao invés de conhecimentos domésticos como aprender a cozinhar, costurar, cuidar de filhos e outras tarefas que fizessem a mulher ser “feminina” aos olhos de uma sociedade machista e injusta.

    A globalização, sem sombra de dúvidas, foi uma das grandes propulsoras dessas mudanças porque permitiu através das redes informacionais a transformação e estrutura dos empregos e ocupações. Muitas mulheres passaram a trabalhar no setor de serviços e passaram, também, a criar postos de trabalhos, ou seja, tornaram-se empreendedoras ao investir, ironicamente, naquilo que sempre souberam fazer como trabalho doméstico. Mas nem tudo são vitórias, porque a desigualdade entre homens e mulheres ainda impera. Mas o conhecimento cujas intervenções que o próprio capitalismo exigiu nas revoluções industriais construíram processos sem precedentes às condições de trabalho, no qual o clima organizacional passou a exigir tarefas e modelos onde a mulher pôde mostrar o seu valor. Nesse sentido a educação assume um papel fundamenta novamentel, pois é ela que irá dar suporte às mudanças nas empresas e sociedades.

    No entanto, as mulheres ainda não ganharam notoriedade no mercado de trabalho, mesmo dominando conhecimentos científicos, mas avançaram para setores importantes no qual assumem papéis que antes eram dados exclusivamente para homens, porém, pelo incrível que pareça, algumas permanecem ainda na informalidade. Se para as mulheres em geral há muito caminho a ser trilhado no mercado de trabalho, para a mulher negra essa possibilidade de acesso conta com considerável atraso e tem como destaque o racismo.

 

Mulheres Negras em Sociedade

    Se para mulheres não negras a vida em sociedade ainda está carregada de preconceitos e discriminação, para a mulher negra, ao agregar o racismo, podemos dizer que o caos se estabelece de modo profundo e chocante.

    A mulher negra no Brasil tende a enfrentar problemas que outros grupos da sociedade não enfrentam. A sua história atrelada à indiferença e ao machismo constituem um fator discriminatório que faz com que esta mulher se afaste cada vez mais da condição de destaque e prioridade social. Por pertencer a uma sociedade subjugada, oprimida e invisível, durante séculos, desde a travessia pelo Atlântico, não se destacava a nenhuma Classe Social. Eram classificados (tanto mulheres, homens e crianças) a “coisas”, objetos, material e propriedade de venda ou negociação.

    Com o advento da abolição da escravatura no país o racismo tomou proporções desastrosas pois, não só, legitimou a Cultura da “Democracia Racial” trazida pelo autor Gilberto Freire em sua obra Casa Grande e Senzala (1933), como considerou toda pessoa preta incapaz de produzir ou investir na intelectualidade e conhecimento científico. Nas palavras de Renan Rocha (2021, p.157):

    Abordar a questão do racismo, a despeito de todo e qualquer contexto que se enseje trabalhar, não é tarefa simples, direta ou mesmo rudimentar consecução. Trata-se de um fenômeno de características tão invisíveis na realidade brasileira que tocá-lo representa um esforço, antes de qualquer outra atribuição, reconhecer e reafirmar a sua existência, em um movimento de negar os pressupostos até hoje vigentes e poderosos que procuram refutar a presença do racismo no cotidiano das relações brasileiras pela afirmação da miscigenação racial passiva e pacífica e da democracia racial.

       Os autores revelam reflexos de sentimentos pelo qual só quem já passou pela discriminação poderia falar a respeito. O racismo é cruel e pode provocar danos sérios na vida social e mental do afrodescendente. O papel político desempenhado pela mídia desenvolveu-se consideravelmente em favor da sociedade patriarcal, elitizada e esteticamente branca, sendo assim, as inúmeras intervenções sociais públicas estimularam aos processos dedicados a mostrarem uma mulher negra como feia, desprovida de inteligência, mas com potencial sexual poderoso, sendo, muitas vezes, solicitada para trabalhos como profissional do sexo ou fora deste contexto, como doméstica. O duplo preconceito, de gênero e de raça, sofrido por mulheres negras são revelados a cada crítica pelo modo de se vestir, traços físicos, pelo distanciamento ao padrão de beleza imposto pelas mídias sociais.

    As lutas feministas não destacam a situação da mulher preta na sociedade, o seu contexto é ainda, mais complexo do que qualquer mulher discriminada. Há contextos que somente as negras podem vivenciar, inclusive a colocando em situação de risco. Muitas tendem a serem usurpadas dos seus direitos, trabalham em dupla e até três jornadas, em funções que a sociedade privilegiada não quer executar, como é o caso das domésticas. Infelizmente, na maioria dos casos, são obrigadas até mesmo, a abandonarem os seus filhos e familiares, para cuidar dos filhos dos patrões. O caso Miguel ocorrido em junho de 2020 escandalizou a sociedade brasileira ao destacar o descaso e desumanização social do negro[3]: Criança de 5 anos caiu do 9º andar de um prédio de luxo, enquanto a mãe, que trabalhava como empregada doméstica da família, passeava com o cachorro da patroa, Sari Gaspar Côrte Real.” Esta foi a chamada da notícia dada pelo portal jornalístico G1 ao denunciar, não só a tragédia ocorrida com esta família negra, mas o quanto muitos patrões ou patroas ainda situam no espaço que emerge à escravidão e tratam seus funcionários com verdadeiro desprezo e descaso aos direitos trabalhistas.

    Mas a vida difícil que atravessa o tempo e espaços constituem um universo peculiar desprovido da fraqueza e desistência, na verdade, cada homem ou mulher negra discriminados na sociedade elevam forças para continuar lutando e depositando nas próximas gerações a esperança de dias melhores ou pelo menos com mais oportunidades. Djamila Ribeiro (2021, p.15-16), escreve para a avó proferindo as seguintes palavras:

    Em geral, as pessoas não se interessam em nos perguntar onde e como dói, pois, acreditam que já conhecem o antídoto para a dor, ou que simplesmente não há a necessidade de senti-la. Numa das poucas vezes que me abri e falei da minha dor, ouvi de uma vizinha que “a vida é dura para quem é mole”. Eu era muito jovem, mas sempre soube identificar a indiferença. A indiferença que não havia começado com cheiro de talco e cama confortável...

        Encontrar forças para lutar contra o racismo é o que a maioria dos pretos e pretas vem fazendo, na tentativa de alçar outros olhares da sociedade, principalmente, quando o exercício da empatia é solicitado. No Brasil o racismo estrutural, aquele que aparece nas entrelinhas, alimenta a cada dia o distanciamento à igualdade social. A luta tem que ser redobrada e para isso, mais uma vez reforçamos que o acesso à educação é a primeira porta de entrada para a conquista de um emprego digno e oportunidades. Nas últimas duas décadas, a presença de mulheres negras no ensino superior teve um salto de 42%, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o que transformou a vida de muitas famílias negras[4]. Acreditar na mudança e na transformação faz com que a mulher negra não pare de lutar e busque conquistar o seu espaço de direito e para isso, é preciso dar voz às mulheres negras e acreditar no seu potencial de trabalho.

 

Conquistando o Mercado de trabalho

 

    As vozes de mulheres negras ecoadas para requerer justiça, direitos, equalização, não vieram sozinhas. Infelizmente, a necessidade de aparatos legislativos deu à população negra o desafio de buscar e lutar pelos seus direitos para alcançar oportunidades que antes lhes foram negadas.

    Desde a Lei 10.689/03[5], que visa a introdução da História e Cultura Negra na sala de aula, como modo de reconhecimento à essa etnia e toda sua contribuição para a Cultura brasileira, passando pela lei das cotas[6], alterada na lei 12.711/12 para lei 12.990/14 e cuja reformulação recente com projeto de Lei nº 5384/20 (aprovado pelo Senado), que garantem a entrada de quilombolas, pretos, pardos e indígenas nas universidades Federais e chegando na lei nº 7.716/89[7], que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, até que a lei n° 12.288/10[8], dispõe o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

    Por esses caminhos o cidadão preto vem buscando oportunidades no Mercado de trabalho e garantindo através de muita luta combater as resistências que persistem em negar ao que tem direito. Sob a manutenção das raízes africanas que está longe de demonstrar capacidades mínimas de homens e mulheres pretos, muitos vem tentando provar conhecimentos e capacidades acima da média exigida para pessoas não negras, ou seja, o máximo rendimento e os melhores patamares são almejados. Pela obrigatoriedade na sala de aula as culturas descendentes mantêm a interação sutil em compor a qualidade e dimensão dos valores adquiridos através da história, não perdem sua legitimidade, mas, contudo, estabelecem metas superiores para obter oportunidade de emprego que não seja braçal ou doméstico. A frase “minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro” é usada em um dos contos de Conceição Evaristo (2016, p.99) para ressignificar a vida difícil e carregada de sacrifícios, da mulher negra.

     As conquistas são mínimas e quando chegam distanciam os negros dos seus semelhantes, o que faz com que estejam em cargos importantes assumindo a postura e cultura do branco e pior, desprezando seus “irmãos e irmãs” ao dificultar o acesso deles aos melhores cargos. Carter Woodson (2021, p.13) chama de “A Raiz do Problema” o fato dos ´Negros educados ‘terem atitudes de desprezo em relação ao próprio povo porque estudaram sobre a cultura eurocêntrica e quase nada sobre o continente africano. Isso quer dizer que, se existe a real dificuldade para os negros chegarem aos cargos de elite, quando acontece ainda dificultam para outros negros qualquer oportunidade. Nas palavras de Woodson:

    Praticamente todos os negros bem-sucedidos neste país são do tipo pouco instruídos ou que não teve alguma educação formal. A grande maioria dos negros com os retoques de nossas melhores faculdades não é nada além de inútil para o desenvolvimento de seu povo. Se depois de saírem da escola eles tiverem a oportunidade de oferecer a outros negros o que os difamadores da raça gostariam que fosse aprendido, eles poderão ganhar a vida lecionando ou pregando o que aprenderam, mas nunca se tornarão uma força construtiva na evolução da raça. A assim chamada escola torna-se então um fator questionável na vida desse povo desprezado.

    Woodson não questiona a capacidade e intelectualidade do negro ou negra que esperam na educação o caminho para sair da invisibilidade, porém, as evidências educacionais apontam para interesses do branco ou dificultam cada vez mais. Não há dúvida de que a aprendizagem desenvolve a inteligência; aliás é o único método para fazê-lo. É possível que a capacidade e talento provenham de herança cultural e que se adquire pela convivência com determinado grupo. Quando Abdias do Nascimento (2019, p.271-296) refere-se ao Quilombismo abre o debate para a observação de que o negro, sem opção e à margem do emprego ou degradado no semiemprego e subemprego, vive em guetos no qual busca ajudar-se pela filosofia da comunidade, no próprio território. Desenvolvem oportunidades empreendedoras entre os seus visando esses espaços sociais e populares, como é o caso das favelas, sem visar o mercado comercial amplo. Abaixo segue um registro da escritora Carolina Maria de Jesus[9] em um dos seus muitos relatos em forma de diário:

15 de julho de 1955 –“Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar. Eu não tinha um tostão para comprar pão. Então eu lavei três litros e troquei com o Arnaldo. Ele ficou com os litros e deu-me pão. Fui receber o dinheiro do papel. Recebi 65 cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1 quilo de toucinho e um quilo de açúcar e seis cruzeiros de queijo. E o dinheiro acabou-se” ...

    A inteligência no Brasil é pautada por um dossiê assustador do racismo. Carregando a herança colonialista e patriarcal isola o negro no universo da ignorância e do desemprego. As mulheres negras, contudo, no mercado de trabalho tem usado do contexto “Quilombismo” trazido por Abdias Nascimento para empreender e através de ONG´s tem colocado em prática trabalhos que rendem o ganho e sustento da família, dos filhos. Reservou-se à mulher negra papéis subordinados no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, consolidou-se o mito da democracia racial, mesmo como empreendedoras ou se virando como foi o caso de Carolina Maria de Jesus.

    Os desafios históricos que as mulheres negras enfrentam para conquistar o mercado de trabalho tem relação direta com a escravização cujas marcas definharam a trajetória laboral delas. Sempre começando muito cedo e saindo tardiamente de seus trabalhos (quando os conquista), a concentração de ocupações subordinadas deu a elas elementos para usar a seu favor e empreendimentos, o que aprenderam a fazer dentro do contexto competitivo cercado por dificuldade de acesso à educação, ameaça constante de rebaixamento por mudança socioeconômica, pelo racismo direto, principalmente, pela dificuldade na mobilidade social.

 

Fonte: https://bancariosjundiai.com.br/negros-enfrentam-mais-dificuldades-no-mercado-de-trabalho/

    As desigualdades contemporâneas enfatizam o legado da escravidão e criam bloqueios e formas de acesso à população negra para qualquer tipo de crescimento e evolução. Sendo assim, a conquista ao mercado de trabalho passa primeiramente pelas dificuldades impostas pelo patriarcado e depois pela falta de oportunidades.

    A sociedade enxerga a mulher negra, ainda como um produto de mercado, pronta para ser “vendida” como objeto sexual em desfiles de escolas de samba, em dança funk e modelo sensual representativo da mulher brasileira. Aquela mulher do dia-a-dia, sem apliques, roupas simples, pouca maquiagem, serve apenas para desempenhar trabalhos domésticos mas, olhando pela ótica destas mulheres, produzidas ou não, possuem uma alegria própria pela vida social em comunidade, expõem com frequência alegria de viver a certeza da sua origem e representatividade em uma sociedade racista, é daí que vem a força e o desejo de buscar novos patamares e não se perder na invisibilidade imposta pela história e pelo capitalismo.

 

Mulheres negras no mercado de trabalho

 

   Compreender o avanço da mulher negra no mercado de trabalho após as argumentações acima e da breve discussão que trouxemos, é como “chover no molhado” porque, de fato, houve pouco avanço e oportunidades. a análise de Lélia Gonzalez (2022, p.113):

    Com relação ao racismo, além dos efeitos das práticas discriminatórias, uma organização social racista também limita a motivação e o nível de aspirações do negro. Quando são considerados os mecanismos sociais que obstruem a mobilidade social ascendente do negro, às práticas discriminatórias dos brancos devem ser acrescentados os efeitos derivados da internalização, pela maioria da população negra, de uma autoimagem desfavorável.

    O que significa que, além de todo processo discriminatório que homens e mulheres negros passam, infelizmente, acreditam na imagem feia e deformada que a sociedade branca declara sobre os corpos pretos. Conforme veremos e analisaremos os gráficos a seguir, dá para perceber o quanto todo esse processo, realmente afasta os modos de melhorias para a sociedade negra no Brasil[10]:

    Sobre a População em Idade Ativa para trabalhar,

  População em idade para trabalhar (PIA) em milhões - 14 anos ou mais

 

 

Fonte: FGV IBRE com microdados da PNADC/IBGE.

  

     As mulheres negras que conseguem trabalho estão inseridas em um cenário ruim porque, seus ganhos estão abaixo da média nacional. As empregadas estão majoritariamente entre as que se destacam quando nos referimos a funções. Muitas, são trabalhadoras dos serviços, vendedoras e estão em ocupações elementares. Muitas destas mulheres não possuem rede de apoio para buscar novos horizontes e capacitações. Mães solo, tendem a se desdobrar em turnos sacrificantes para a manutenção e sustento da casa e dos filhos.

    Na área educacional,

 

Composição educacional da PIA - dados selecionados - em %

 

Fonte: FGV IBRE com microdados da PNADC/IBG

 

      De 2012 para 2022 os cresceram um pouco, mas não o bastante para gerar novas oportunidades. As pesquisas indicam que essas mulheres buscaram mudar suas vidas através da educação, alcançaram a oportunidade em ter um diploma (uma das exigências documentais no mercado de trabalho) mas não atingiram a educação em nível superior com destaque.

    O próximo gráfico é sobre o nível de oportunidades de participar no mercado de trabalho de forma competitiva,

Participação e desemprego - 14 anos ou mais - em % - 1º trimestre de 2023

Fonte: FGV IBRE com microdados da PNADC/IBGE.

    Observe que, por questões óbvias, diante ao que já foi exposto neste texto, que as mulheres negras estão bem abaixo das condições de participação no mercado de trabalho e, por consequência há reais dificuldades para inseri-las no mercado de trabalho, desperdiçando desta forma todo potencial que muitas adquiriram na educação e na experiência da vida.

    Queremos chamar a atenção para a tabela abaixo porque, por mais que entendamos que a mulher negra, por falta de oportunidades imposta pela sociedade elitizada e racista, a sua luta para alçar novos horizontes a levou ao aumento e presença de profissionais das ciências e intelectuais.

 

Participação das mulheres negras em cada função

 

Fonte: FGV IBRE com microdados da PNADC/IBGE.

 

    Infelizmente, compõe os índices de trabalhadoras de serviços ou ocupações elementares mulheres com formação universitária, também. Pela falta de crédito das empresas contratantes[11] a maioria não consegue alcançar seus objetivos em trabalhar em um cargo de elite ou que exija o esforço intelectual.

 

 

Considerações finais

 

    O racismo é inicialmente uma doença que assola sociedades, em qualquer parte do mundo. Como se discute em muitas bibliografias e centenas de narrativas o racismo no Brasil é deveras cruel porque mascara atitudes, expressões, falas e leis, ao ponto da discriminação ser considerada um mal entendido e nada mais. Os tratamentos são dados como se houvesse intimidade o suficiente para acreditar que a sociedade negra não vai se ofender e sofrer com a discriminação e preconceito são constantes.

     Nos habituamos a lidar com frase como essas : 1-“Amanhã é dia de branco”, 2- “Serviço de preto”, 3- “A coisa tá preta”, 4- “Mercado negro”, 5- “Denegrir”, 6- “Inveja branca”, 7- “Da cor do pecado”, 8- “Morena”, “mulata” (por vim seguidos de tipo exportação), 9- Negra “de beleza exótica” ou com “traços finos”, 10- “Não sou tuas negas”, 11- “Cabelo ruim”, “Cabelo de Bombril”, “Cabelo duro” e, a mais desnecessária, “Quando não está preso está armado”, 12- “Nasceu com um pé na cozinha”, 13- “Barriga suja” e tem muito mais. A isso somado a atitudes classifica-se como racismo estrutural.

     O problema é que isso tudo está internalizado como cultura, o que fomenta o distanciamento cada vez maior da homem e da mulher preta na sociedade. As classificações racistas e moldadas pelo pensamento eurocentrista e colonizador, infelizmente, invisibilizou os negros e os deixou à margem de tudo, sobretudo, no mercado de trabalho.

    Para a mulher negra os desafios são muitos porque tem o fato de ainda vivermos sob uma cultura machista que não vê com bons olhos a mulher independente e inteligente, então, pior ainda, quando esta mulher é negra porque como escrava e após a abolição da escravatura, só era percebida como objeto sexual para satisfazer as vontades dos patriarcados.

    Sem oportunidades para ter uma formação escolar em nível superior (mesmo quando o tem) a grande possibilidade de encontrar trabalho é como doméstica ou em serviços gerais, complementares. Geralmente, não tem, se quer a chance de mostrar suas capacidades e conhecimentos porque sua aparência e cor de pele torna-se o seu único curriculum, o que na concepção dos racistas é o suficiente para julgar e negar a oportunidade. Há casos em quando são aceitas tem que adequar-se ao padrão da mulher branca, usando roupas, cabelo e linguagem que não são pertencentes à cultura negra. Isso não quer dizer que a mulher negra não tenha que se vestir com alta costura ou ser bilingue, enfim, ela só precisa saber qual é o seu berço e se orgulhar da sua origem e descendência. A legislação tem ajudado mulheres negras a alcançarem patamares mais altos, o que pode ser considerado um primeiro passo para mudanças significativas em termos de empatia e reconhecimento de fato.

 

 Referências Bibliográficas principais

CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. Vol 2. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

GONZALEZ, Lélia, Hasenbalg, Carlos. Lugar de Negro. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.

ROCHA, Renan Vieira Santana, TORRENTÉ, Mônica Nunes de, COELHO, Maria Thereza A D. Saúde Mental e Racismo à Brasileira: Narrativas de trabalhadoras e trabalhadores da atenção Psicossocial. Salvador – BA: Devires, 2021

WOODSON, Carter G. A DesEducação do Negro. São Paulo: Edipro, 2021.

 

Referências Bibliográficas secundárias

 

AMARO, Vagner (org), Olhos de Azeviche. São Paulo: SMC, 2019.

CARONE, Iray, BENTO, Maria Aparecida Silva (orgs). Psicologia Social do Racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro, 2002.

CASALI, Alipio (org). Educação e empregabilidade: novos caminhos da aprendizagem. São Paulo: EDUC, 1997.

COSTA, Maria Cristina. Sociologia – Introdução à Ciência da Sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1987.

DAVIS, Viola. Em Busca de Mim. 6ª. Rio de Janeiro: BesteSeller, 2022.

EVARISTO, Conceição. Olhos D`Água. Higienópolis – RJ: Pallas, 2014.

JESUS, Carolina Maria de. 7ª. Quarto de Despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Francisco Alves, 1960.

LOPES, Nei. Dicionário Escolar Afro-Brasileiro. São Paulo: Selo Negro, 2006.

NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo. Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.

PAIM, Paulo (senador). Estatuto da Igualdade Racial. Brasília, 2003.

RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha vó. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

 

Referências online

https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/06/05/ela-deixou-meu-filho-em-perigo-diz-mae-de-menino-que-estava-aos-cuidados-da-patroa-e-morreu.ghtml (caso Miguel) <acesso em 03/10/2023>

https://www.geledes.org.br/racismo-e-desigualdade-no-trabalho-mulheres-negras-nao-avancam-como-as-brancas/?gclid=EAIaIQobChMI8bb8-PrygQMV415IAB32GADIEAAYASAAEgJmYfD_BwE <acesso em 03/10/2023>

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2000/lei-10689-30.11.2000.html <acesso em 10/10/2023>

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm <acesso em 10/10/2023>

 

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%207.716%2C%20DE%205%20DE%20JANEIRO%20DE%201989.&text=Define%20os%2 <acesso em 10/10/2023>

 

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm <acesso em 10/10/2023>

https://ibre.fgv.br/blog-da-conjuntura-economica/artigos/crescimento-da-populacao-em-idade-ativa-e-maior-entre-mulheres#:~:text=No%20primeiro%20trimestre%2C%20permanecia%20em,%2C1%20milh%C3%B5es)%20estavam%20empregadas <acesso em 13/10/2023>

 

 

 

 

 

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

 

Adriana Olimpia Machado de Freitas

Soraia Aparecida da Silva

Vilma Mesquita Nunes

 

 

 

 

 

 

Racismo: Mulheres Negras no Mercado de Trabalho

 

 

 

 

 

 

 

São Paulo

2023

 

[1] A Igreja católica escreveu sua história por séculos de dominação e controle social ao considerar o comportamento humano ajustado às escritas bíblicas, assim como, dominando o Poder Político entre as Eras medieval e moderna.

A Igreja católica escreveu sua história por séculos de dominação e controle social ao considerar o comportamento humano ajustado às escritas bíblicas, assim como, apoiada pelo Poder Político.

 

 

 

[2] Castells, Manuel. P.273

[9] Carolina Maria de Jesus, migrante de Minas Gerais, foi para São Paulo para tentar a vida e manter a sobrevivência. Trabalhando como doméstica iniciou também a atividade de Catadora de papel em um lixão para não deixar os filhos morrerem de fome e para garantir a dignidade.

[11] Muitas não chegam nem a realizar testes de conhecimento, simplesmente, a aparência da candidata negra faz a oportunidade ser negada.


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